Coworking: como projetar escritórios eficientes, confortáveis e funcionais
O fenômeno da economia compartilhada não é exatamente novo. Se pararmos para analisar friamente, as locadoras de filmes e de carros são exemplos desse modelo de negócio com as portas abertas há anos. Fato é que o conceito tem ganhado uma enorme força nos últimos anos, abrangendo os mais variados segmentos de mercado, inclusive no compartilhamento de espaços de trabalho – os chamados coworkings.
O funcionamento de um coworking é simples: mesas e salas são alugadas por períodos, que podem ser de algumas horas, diárias, semanais ou mensais. O propósito desse tipo de negócio é repensar o ambiente no qual as pessoas podem desempenhar suas funções profissionais, oferecendo estruturas “inteligentes”, inspiradoras e dinâmicas que fomentem a produtividade e o networking.
E esse modelo de smart workplaces tem obtido êxito. De acordo com o Censo Coworking Brasil, apesar da crise existente no Brasil, em 2019 ocorreu um crescimento de 25% em relação ao ano anterior no número de coworkings, passando de 1.194 para 1.497 e marcando presença em 195 cidades com mais de 100 mil habitantes.
Todo esse sucesso e os benefícios trazidos por esse tipo de ambiente têm chamado a atenção não só de investidores para criarem novos espaços do gênero mas de empresas que desejam se modernizar, oferecer melhor qualidade de trabalho para seus funcionários. Os coworkings viraram verdadeiras tendências para escritórios.
Com isso, a demanda por projetos desse estilo tem aumentado bastante. Nesta matéria trazemos algumas orientações importantes para projetar escritórios eficientes, mas sem perder o conforto e a identidade.
Estudo preliminar de acordo com as solicitações do cliente
A premissa de um coworking é oferecer um ambiente totalmente preparado para receber profissionais independentes que procuram espaços práticos e funcionais para desenvolver suas atividades, mas que de preferência promovam a interação entre os frequentadores, o que pode gerar boas oportunidades de negócio. Em suma, esses profissionais autônomos querem um lugar de trabalho que não os deixem isolados, mas que não ofereçam grandes distrações como os existentes em locais públicos, por exemplo.
Além disso, muitos empreendimentos do gênero procuram atingir públicos específicos, exigentes e que sabem o que buscam para sua rotina de trabalho. Assim, a variedade de possibilidades na composição arquitetônica e decorativa é enorme. Dessa forma, o primeiro passo no projeto de um coworking é realizar um estudo preliminar para entender com precisão a proposta do investidor, bem como as necessidades que ele identifica dos seus potenciais clientes.
Na hora de realizar esse levantamento, alguns questionamentos pertinentes são:
- Como acontecerá a recepção dos locatários e de seus convidados?
- Qual será o fluxo de atendimento e de transição das pessoas pelos diferentes espaços?
- Existirão áreas voltadas ao convívio? Com que nível de informalidade de interação?
- Os locais efetivos de trabalho serão focados na interação dos frequentadores? Ou devem ter opções mais individualizadas?
- Quantas salas de reunião existirão e quais as funcionalidades essenciais para cada uma delas?
- O ambiente deve possuir algum aspecto modular, viabilizando mudanças de layout facilitadas?
- Existe alguma necessidade de infraestrutura ou tecnológica específica além de pontos de energia e de transferência de dados?
Enfim, esse é o momento de explorar todas as vertentes e os detalhes imaginados para o coworking. Como é de se imaginar, com atividades tão variadas sendo desenvolvidas nesse espaço e profissionais com rotinas tão diversificadas, é difícil querer estabelecer qualquer padrão.
Alguns aspectos estruturais podem ser similares, mas as ambientações são peculiares e buscam atender necessidades e legislações específicas. Na verdade, a padronização não é desejada nesses ambientes, a tendência é oposta: proporcionar locais aconchegantes, com horários flexíveis de atendimento e que priorizem a produtividade. Um coworking precisa ser versátil e adaptável.
Por tudo isso é fundamental que arquitetos, designers de interiores e projetistas compreendam muito bem quais serão as utilidades dos espaços, o perfil de relacionamento esperado ali dentro, para que o projeto inclua todos os elementos necessários para a otimização desse ambiente, evitando equívocos de expectativas e consequentes prejuízos. Entendimentos desalinhados podem pode comprometer totalmente o projeto arquitetônico e de decoração.
Planejamento do layout
Com todas as necessidades e requerimentos devidamente mapeados, a etapa seguinte é iniciar o planejamento do layout. Conforme observamos, não existe uma “receita de bolo” para projetar um coworking, o que ditará os moldes do projeto são as especificidades pensadas para o espaço.
Contudo, existem algumas premissas compartilhadas nesse tipo de empreendimento que não podem ser negligenciadas. Escritórios desse gênero precisam ser adaptáveis, flexíveis para cenários de trabalho variados. O ambiente necessita ser dinâmico, facilitando a comunicação e a interação das pessoas, e ergonômico, pois ele tem influência direta na produtividade e no relacionamento de quem o frequenta.
Confira a seguir alguns pontos cruciais no desenvolvimento de projetos arquitetônicos e decorativos, principalmente de coworkings.
- Dimensionamento do local: saber a dimensão real e exata do ambiente é imprescindível, pois isso determinará a definição de elementos estruturais e compras de boa parte do mobiliário. Portanto, evite adquirir qualquer coisa antes de ter a real noção de espaço do escritório.
- Conceito espacial: o próximo passo é definir qual o conceito espacial será adotado. Em sua maioria, os coworkings acabam utilizando o open concept (conceito aberto em tradução direta), mas isso não é regra. Esse modelo é comum nesse tipo de ambiente pois permite a otimização da área útil, a interação facilitada entre as pessoas e possíveis necessidades de readaptações de layout para adequação à realidade do escritório. Vale ressaltar que embora geralmente adotem o conceito aberto, os coworkings também necessitam de locais com maior privacidade. Assim, analisar composições sonoras e de climatização também são bem importantes.
- Disposição do mobiliário: os móveis devem estar posicionados e distribuídos com foco na otimização das atividades, mas sem esquecer do conforto e bem-estar. Por exemplo, o mobiliário não pode obstruir pontos úteis como tomadas, fechaduras, passagens de ar, entre outros, pois pode afetar diretamente a circulação das pessoas, a iluminação natural do ambiente e até mesmo a realização das tarefas.
- Especificidades: por fim, mas não menos importante, é preciso implementar os elementos necessários para atender as especificidades do espaço levantadas no estudo preliminar. O ideal é que móveis, objetos e decoração sejam pensados em suas funcionalidades e como elas podem ajudar na rotina de execução das atividades.
Deseja ter inspiração para iniciar seu projeto de coworking? Existem diversos exemplos de plantas, desde modelos focados no compartilhamento total do espaço até composições com estruturas mais privativas.
Projeto de arquitetura
Um dos grandes desafios do projeto de arquitetura para coworkings é unir estética e funcionalidade, ou seja, criar um ambiente extremamente voltado à produtividade do trabalho sem deixar de priorizar a ergonomia, ter uma iluminação adequada e ser acolhedor e moderno. Nessa complexa composição, a decoração, o mobiliário e a iluminação são a tríade que garantirá o sucesso do projeto.
Decoração
Mais do que apresentar um visual atrativo e interessante ao espaço, a decoração possui a capacidade de influenciar a emoção das pessoas, e até mesmo interferir na tomada de decisão delas, conforme abordamos neste artigo. Portanto, a escolha de cores, acabamentos e revestimentos precisa ser levada a sério e ter funcionalidades ativas no ambiente.
Por exemplo, a mescla de colorações claras com cores mais vivas, aliada a adoção de texturas variadas e presença de plantas e adornos promove uma percepção mais leve do escritório, abandonando o estigma de que espaço de trabalho é um ambiente impessoal e “frio” e, assim, o tornando mais produtivo e acolhedor.
Mobiliário
Conforme ressaltamos anteriormente, o mobiliário escolhido para um coworking deve estar em completa harmonia com seu propósito e especificidades, não deixando de oferecerem a versatilidade necessária para readequações de layout, caso necessárias. Por isso, é interessante a adoção de móveis modulares e funcionais. Resumindo, eles precisam colaborar com a realização das atividades desenvolvidas ali.
Para que todas essas características se encaixem perfeitamente, antes da definição do mobiliário é fundamental a observação da dimensão total do ambiente, das cores adotadas na pintura das paredes e outros objetos, da finalidade de cada espaço específico e da ergonomia.
Aliás, esse último aspecto é essencial e merece muita atenção. Afinal, se uma das principais finalidades do coworking é a produtividade, como os profissionais serão mais produtivos se não estiverem bem de saúde? E o tempo que a ergonomia era atrelada a mobílias com pouco apelo de design acabou, tanto que existe há mais de uma década pesquisas sobre o ergodesign – confira mais sobre esse conceito.
Portanto, móveis de apoio, cadeiras adaptáveis e objetos ergonômicos proporcionam maior percepção de bem-estar, qualidade de trabalho e consequentemente aumento de produtividade.
Iluminação
O projeto luminotécnico vai além de ressaltar a decoração, ele pode tornar o ambiente ainda mais agradável e produtivo de acordo com as corretas escolhas de pontos de iluminação, posicionamento de tomadas e interruptores, entre outros aspectos. O adequado contraste de luz e sombra, a utilização de pontos focais e objetos em destaque e o cuidado com os detalhes podem impactar positivamente na rotina de trabalho do ambiente.
Conforme explicamos anteriormente, a iluminação tem a capacidade de afetar o humor dos funcionários, por isso verifique e planeje com cautela os índices de refração e reflexão, as tonalidades de lâmpadas e a disposição dos focos luminosos.
Visando combinar eficiência luminosa com flexibilidade e versatilidade de estrutura, uma solução prática e eficiente é a implementação de eletrocalhas modulares, pois permitem a movimentação das fontes luminosas. Com isso, o ambiente ganha fluidez e pode ser ajustado de acordo com novas necessidade sem grandes reformas.
Outros produtos interessantes para complementar essa flexibilidade estrutural são as colunas articuladas e caixas de tomadas acopladas ao piso, pois, além de oferecer dinamismo funcional ao espaço, se encaixam esteticamente ao ambiente – sem interferir diretamente na estética do projeto.
Um case de sucesso que combina muitos desses elementos é o da empresa Sodexo. A companhia precisava criar um espaço de trabalho mais dinâmico, fomentando a interação de seus colaboradores de maneira simples e prática, e para isso a estrutura do ambiente exigia sistemas de fios e pontos de energia móveis. A solução encontrada foi adotar colunas articuladas para que a disposição das estações de trabalho do espaço ficasse livre de acordo com a atividade a ser realizada.
Uma realidade que merece atenção
Os coworkings deixaram de ser uma mera tendência e já são uma realidade como alternativa de espaço de trabalho compartilhado no Brasil. Um negócio promissor para investidores e empresários do país que demanda muito estudo e planejamento de arquitetos, designers de interiores e projetistas.
Por terem foco em produtividade e construção de networking, esses espaços demandam projetos que combinem funcionalidade, ergonomia e versatilidade – tudo isso sem deixar de lado um visual atraente e aconchegante. Ou seja, são projetos bastante desafiadores.
Dessa forma, é crucial entender todas e as reais especificidades de cada ambiente, com quais finalidades cada espaço será utilizado e qual a proposta de funcionamento idealizada pelos investidores. Em decorrência disso, o planejamento e implementação do layout deve levar em conta a composição de decoração, mobiliário e iluminação de forma a potencializar a produtividade e o bem-estar dos profissionais que frequentarão tal espaço de trabalho compartilhado.
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