Como a iluminação afeta o humor?
Para olhares desatentos, a composição da iluminação de um ambiente não tem grande importância, ou simplesmente tem um papel de destacar a beleza de uma determinada área do espaço ou objeto contido nele. Contudo, estudos científicos comprovam que o projeto de iluminação de um ambiente tem impacto na vida e na saúde de quem o frequenta.
De acordo com pesquisa de Talieh Ghane, do California Lighting Technology Center, como mencionado em publicação no site Alcon Lighting, passamos aproximadamente 90% do tempo em ambientes fechados. Ou seja, vivemos cercados por lâmpadas e fontes luminosas artificiais como resultado da dinâmica e estilo de vida moderno.
Se por um lado ganhamos uma infinidade de oportunidades para novas rotinas, em outra perspectiva temos o funcionamento do nosso organismo afetado, promovendo uma verdadeira confusão no nosso ciclo biológico. Isso traz uma série de consequências para nossa saúde, principalmente influenciando nosso humor.
Devido a isso, é fundamental que arquitetos, designers de interiores e projetistas estejam preocupados muito mais do que só o apelo visual ou o conforto estético de um projeto luminotécnico. Esses profissionais precisam estar conscientes do impacto que a iluminação possui no bem-estar de quem frequenta os ambientes criados. Nesta matéria vamos discutir detalhes de como essa influência acontece e os cuidados necessários para um bom projeto de iluminação.
Como a iluminação afeta o humor?
Diversas funções do nosso organismo são reguladas pelo o que chamamos popularmente de relógio biológico. Em outras palavras, é a forma como o nosso corpo entende o decorrer das 24 horas de um dia e as necessidades que temos ao longo desse período.
A nomenclatura correta para esse ritmo biológico é ciclo circadiano, o qual funciona principalmente a partir da percepção da incidência de luz, além da temperatura externa e outros estímulos que não vem ao caso nesse momento.
Quando a luz atinge a retina, em um primeiro momento ela estimula o córtex visual, que nos possibilita enxergar o ambiente que nos cerca. Porém, essa luminosidade também percorre fotorreceptores denominados Células Ganglionares da Retina Intrinsecamente Fotossensíveis (ipRGCs).
Esses fotorreceptores levam os estímulos luminosos até o hipotálamo, uma pequena área do cérebro responsável por sincronizar o relógio natural. Assim, as luzes percebidas orientam o ciclo circadiano na secreção de melatonina e produção de hormônios que, por sua vez, determinam o ritmo de funcionamento do organismo – incluindo temperatura corporal, processo de digestão, estado de vigilância, qualidade e duração do sono, humor e até mesmo no mecanismo de renovação das células.
Caso queira aprofundar conhecimentos nesse assunto, sugerimos a leitura do artigo “Os efeitos da intensidade e temperatura de cor no novo ciclo circadiano do homem“, escrito por David H. Bosboom, lighting designer com 25 anos de experiência de teatro em Nova York, especialista em projetos de iluminação a LED e sistemas de controle DMX no Brasil.
Quando a noite vira dia
O organismo da maioria dos seres vivos, não só dos seres humanos, está preparado para receber maior incidência de luz durante o dia e menor à noite. No nosso caso, com a invenção da iluminação elétrica por volta de 1880, o estilo de vida tem essa dinâmica invertida. Enquanto o sol está brilhando lá fora, estamos recebendo menos luminosidade do que deveríamos, do que o nosso corpo necessita e está aguardando, pois geralmente estamos em ambientes fechados com pouca iluminação ou com projetos luminotécnico inadequados.
Em contrapartida, no período da noite, quando a exposição a luzes deveria ser menor, continuamos sendo “bombardeados” por fontes luminosas, principalmente pela incidência de luz azul, uma iluminação que por sua intensidade de temperatura é interpretada pelo nosso hipotálamo como se ainda fosse dia. Dessa forma o organismo continua recebendo estímulos com o entendimento de que precisamos estar em estado de alerta e dispostos para atividades que demandam mais energia.
Uma pesquisa realizada pelo California Lighting Technology Center, conduzida pela cientista Talieh Ghane, conforme explicitado pelo portal Alcon Lighting, identificou que a incidência de luz em quantidade adequada apresentou efeitos benéficos na disposição, na sensação de bem-estar e no humor dos participantes do estudo.
Por outro lado, integrantes da parcela do grupo que recebeu incidência de luminosidade abaixo do ideal apresentaram sintomas de ansiedade e depressão, além de carência de vitaminas e sais minerais. A conclusão é que o organismo humano necessita estar exposto à luz solar pelo menos algumas horas por dia, especialmente pela manhã.
Porém, é fato que muitas pessoas não possuem flexibilidade em suas agendas ou a estrutura onde permanecem não permite a exposição à luz natural pelo tempo ideal. E é nesse ponto que um projeto de iluminação adequado faz diferença, pois estudos também apontam que é possível mimetizar a luminosidade natural com fontes de luz artificial, trazendo os benefícios desejados para o corpo humano.
Luzes e emoções
Em um cenário ideal, o ambiente projetado oferece luzes brilhantes e fortes no período da manhã e início da tarde, sofrendo uma redução de intensidade ao longo do dia. Durante a noite, o espaço deve apresentar luzes menos potentes, promovendo a menor exposição possível.
A intensidade da luz tem direta relação com as emoções humanas, como aponta a pesquisa de Alison Jing Xu, desenvolvida na Universidade de Toronto. “Luzes fortes intensificam a reação emocional inicial que temos a um estímulo, e os efeitos disso podem ser tanto positivos como negativos”.
Inclusive, estudo realizado pela Kellogg School of Management da Universidade do Noroeste, em Illinois, Estados Unidos, assegura que a iluminação tem a capacidade de influenciar as decisões que tomamos.
Essa relação de luzes e emoções está diretamente ligada à temperatura da cor da fonte luminosa. Vale ressaltar que esse aspecto não corresponde ao quanto a lâmpada esquenta, por exemplo, mas sim à tonalidade da luz emitida que tem como unidade de medida o Kelvin. Quanto mais alto esse valor, mais clara e fria é a luminosidade.
Na prática, as luzes consideradas quentes, as quais possuem tonalidades que se aproximam do amarelo, apresentam efeitos emocionais que transmitem sensações de relaxamento, aconchego e tranquilidade, sendo indicadas para ambientes como quartos, salas de estar e restaurantes.
Por sua vez, as luzes frias tendem a afetar nosso organismo de maneira estimulante, pois reduzem a secreção de melatonina, que é o hormônio responsável pela indução do sono. Nesse sentido, as fontes luminosas do tipo azul se destaca, estando muito presentes nos celulares, aparelhos de TV, computadores, entre outros aparelhos eletrônicos. Por ter essa característica de nos deixar mais acordados, e consequentemente mais produtivos, essas tonalidades frias são interessantes em escritórios, salas de reuniões e espaços fabris.
A iluminação artificial na arquitetura
Um projeto arquitetônico e de decoração jamais deve deixar de lado os aspectos luminotécnicos, pois eles têm a capacidade tanto de valorizar quanto de atrapalhar a percepção de beleza visual e funcionalidade de um espaço. Por isso, a devida atenção precisa ser dada para o estudo e a implementação de diferentes tipos de luminosidade para as diversas finalidades existentes dentro dos ambientes projetados. A seguir estão explicados os tipos básicos de sistema de iluminação.
Iluminação direta
Composição na qual a fonte luminosa tem seu fluxo incidindo diretamente em uma superfície. O propósito desse direcionamento direto é evitar a perda de potencial de iluminação em materiais de paredes e forros, por exemplo. Esse tipo de sistema é muito utilizado em ambientes de trabalho, exigindo cuidado para que não se torne exaustiva nem ser direcionada para superfícies muito reflexivas, principalmente vidros e espelhos.
Iluminação indireta
Aqui a fonte de luz é direcionada para um determinado ponto, conhecido como anteparo, para que ofereça assim a luminosidade desejada no ambiente. Nesse sistema parte do potencial luminoso é absorvido, promovendo uma iluminação mais amena quando analisado o espaço como um todo.
Iluminação de destaque
O propósito desse sistema é conduzir os olhares para um ponto focal, seja um objeto ou lugar específico do espaço. Usado comumente em museus e ambientes de exposição, é necessário se atentar para o tipo de ideal de lâmpada ou fonte luminosa para que se adeque ao ponto ou objeto a ser evidenciado, pois dependendo do material de que são feitos podem sofrer avarias e deterioração.
Iluminação de efeito
Muito usado em áreas externas, fachadas e composição de paisagismos, esse sistema consiste em embutir a fonte luminosa em algum elemento arquitetônico, o que geralmente acontece em forros e sancas, para destacar a tonalidade da luz.
Iluminação difusa
A ideia é que não existam fachos de luz que incidam diretamente em qualquer superfície do ambiente. Para isso, usa-se o artifício de elementos difusores, como vidros opacos, que combinados com o direcionamento para reflexão em tetos e paredes permitem que a luminosidade se espalhe de maneira mais homogênea.
Wall Washing
Consiste na utilização de sequência de pontos luminosos ou fitas de led com o intuito de criar o efeito de que toda a parede emite luz, como se estivesse sendo “lavada” pela luminosidade. É uma técnica eficiente para realçar fachadas e arquitetura de paredes ou superfícies retas com dimensão considerável.
Aspectos a considerar no projeto de iluminação de um ambiente
Um projeto de iluminação deve observar uma série de aspectos para que ofereça resultados adequados à necessidade de cada ambiente. Na sequência, abordaremos as principais características relacionadas à luminosidade que não podem ser esquecidas na composição de qualquer espaço, e esse tema é amplamente discutido até em um mestrado, onde é apresentado um modelo de processo de projeto de iluminação aplicada à arquitetura.
Mapeamento da distribuição da luz
Um dos primeiros passos para que o projeto luminotécnico seja bem-sucedido é o mapeamento da distribuição da luz. Essa etapa se resume a entender e projetar como a luminosidade deve se espalhar pelo ambiente como um todo e em áreas específicas. Dois conceitos são primordiais para isso.
- Luminância: grosso modo, essa medida transcreve a intensidade de brilho da luz quando emitida ou refletida em determinada superfície. Embora possa ser representada em várias unidades, a mais comum é a candela por metro quadrado (cd/m2), podendo ser quantificada por meio de diferentes aparelhos, como colorímetro, espectrorradiômetro e medidor de luminância.
- Iluminância: tendo como unidade de medida o lux, essa grandeza de luminosidade expressa a intensidade com que a luz incide em determinado local do ambiente. Em suma, pode ser considerada como a quantidade de luminosidade existente naquele espaço. Também pode ser registrada por meio de um colorímetro, além do medidor de iluminância.
Avaliação da quantidade e qualidade da luz
Tendo mapeada a distribuição da luz, é necessário avaliar dois fatores de luminosidade. O primeiro deles é a quantidade de iluminação incidente nos pontos mais relevantes do ambiente de acordo com a finalidade para as quais eles serão utilizados. Ou seja, verificar se a iluminância está adequada e dentro do planejado.
O outro fator a ser observado é a qualidade da luz, a qual deve levar em conta os níveis de iluminação natural útil. Isso significa que a intensidade e a quantidade de iluminação externa precisam ser consideradas para que o projeto luminotécnico entregue o complemento ou a interferência necessários ao espaço projetado conforme a sua funcionalidade.
Flexibilidade
Outro aspecto de grande importância para a eficiência de um projeto luminotécnico é a flexibilidade de sua estrutura, possibilitando a mobilidade da iluminação dentro do ambiente. A emissão demasiada e intensa de luzes, bem como a falta de iluminação, e a ocorrência de mudanças bruscas nos níveis de luminosidade podem causar desconforto visual.
Uma solução a ser considerada é a eletrocalha modular APIS da Valemam. Tendo seu nome inspirado no termo “abelha” em latim, esse produto reproduz a estrutura celular das colmeias para cobrir grandes vãos aéreos e com a flexibilidade necessária para adaptar a iluminação aos espaços de forma livre, rápida e versátil, sem precisar de grandes reformas.
Mais do que beleza, iluminação é fonte de saúde
Conforme observamos ao longo desta matéria, diversos estudos científicos inferem que a iluminação tem grande e direta influência no nosso organismo, afetando funcionamento de sistemas fundamentais para o bem-estar e saúde de qualquer pessoa, inclusive com capacidade de alterações do ciclo do sono, humor e até tomada de decisões.
Portanto, a atenção com o projeto luminotécnico se faz cada vez mais relevante para a composição de ambientes arquitetados e decorados de maneira eficiente, agradável e saudável. Assim, arquitetos, designers de interiores e projetistas passam a ter um papel de maior responsabilidade na qualidade de vida de quem usufrui dos espaços criados por eles.
Dessa forma, é primordial levar em conta a forma como a distribuição de luz deve acontecer em um ambiente, a quantidade e qualidade das fontes de iluminação e a mobilidade com que a luminosidade estará integrada ao espaço.
Para saber mais sobre inovação e execução de projetos de arquitetura e design, continue acompanhando nosso blog. Até a próxima!